Ao longo dos séculos, os Estados Unidos passaram por transformações significativas em sua política tarifária. No início do século XIX, quando as tarifas constituíam a principal fonte de receita federal, o país mantinha alíquotas efetivas elevadas sobre as importações — frequentemente acima de 40% e, em alguns períodos, ultrapassando os 50%. Essas tarifas protegiam uma indústria doméstica incipiente, refletindo uma estratégia amplamente aceita à época, embora atualmente questionada por estudos recentes.
Com o passar do tempo, a estrutura de financiamento do Estado norte-americano se diversificou e a política comercial passou por processos de liberalização. O resultado foi uma queda acentuada nas tarifas médias. Em 2023, a tarifa efetiva — medida como a receita aduaneira em proporção ao valor total das importações — foi de apenas 2,5%. Ainda que ligeiramente superior à de anos anteriores, essa taxa é extremamente baixa em comparação com os níveis históricos.
A série histórica das tarifas médias nos EUA revela esse movimento de longo prazo:
- Século XIX: tarifas superiores a 40%, com picos acima de 50%
- Pós-Segunda Guerra Mundial (a partir de 1946): tendência de queda contínua
- Anos 2000: estabilização em patamares inferiores a 3%
- 2023: tarifa média de 2,5%
Contudo, propostas recentes — especialmente no contexto das eleições presidenciais de 2024 — reacenderam o debate sobre a elevação de tarifas como instrumento de política econômica. O ex-presidente Donald Trump sugeriu aumentos generalizados sobre bens importados, com alíquotas variando entre 10% e 60%, e até mesmo uma tarifa de 200% sobre importações do México. Caso implementadas, tais medidas poderiam elevar a tarifa média efetiva dos EUA para um intervalo entre 9% e 29%, os maiores patamares desde 1946 ou mesmo desde o final do século XIX.
Além dos impactos fiscais e comerciais, esses aumentos tarifários projetados teriam consequências profundas para a economia norte-americana, como aumento nos preços ao consumidor, queda da renda real das famílias — especialmente as de baixa renda — e encolhimento do PIB.
A disponibilização desta série histórica pelo Observatório de Economia Política Internacional (OEPI) busca contribuir com o debate público e acadêmico sobre a política comercial dos Estados Unidos, oferecendo uma base empírica para o acompanhamento de tendências e o estudo dos impactos de diferentes regimes tarifários.