A ascensão da Índia ao posto de quarta maior economia mundial coincidiu com um período de fortes tensões comerciais com os Estados Unidos. Sob a liderança de Donald Trump, Washington impôs tarifas inéditas sobre produtos indianos, afetando setores estratégicos e colocando em xeque as negociações bilaterais. Entre retaliações na OMC, campanhas de boicote e riscos ao mercado financeiro, Nova Déli busca equilibrar crescimento econômico e diplomacia em meio à escalada tarifária.

Índia

VS
TRUMP

A Índia encontra-se em processo de consolidação como uma das maiores economias mundiais. Em maio de 2025, dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicaram que o país ultrapassou o Japão em Produto Interno Bruto (PIB), alcançando a quarta maior economia global, com um PIB estimado em aproximadamente 4 trilhões de dólares.

No entanto, o cenário econômico indiano tem enfrentado tensões comerciais significativas com os Estados Unidos desde o popularmente chamado “tarifaço”. As tarifas são os impostos cobrados de produtos importados, como forma de proteger a produção nacional. Nesse sentido, os Estados Unidos apostam nelas para atrair investimentos e recuperar a indústria americana. Logo, a tarifa efetiva dos EUA sobre os bens indianos se elevou de 2,4% em 2024 para 20,4% em 2025, sendo assim um aumento de 18,3 pontos percentuais. Portanto, o aumento abrupto das tarifas eleva os custos das exportações indianas, potencialmente diminuindo a sua competitividade e pressionando os volumes e as margens. 

Sob a liderança do presidente Donald Trump, em fevereiro de 2025, o governo norte-americano impôs tarifas de 26% sobre as exportações indianas, justificando a medida como uma resposta às tarifas médias aplicadas pela Índia sobre produtos americanos, consideradas mais elevadas. Essa decisão impacta diretamente setores-chave da economia indiana, em especial os bens de engenharia, que engloba autopeças, tubos de aço inoxidável e componentes estruturais, representando cerca de 5 bilhões de dólares em exportações. Além disso, outros segmentos como produtos químicos, metálicos, automóveis e joias também devem registrar perdas expressivas, podendo chegar a 7 bilhões de dólares anuais.

O governo indiano, por meio do Ministro do Comércio e Indústria, Piyush Goyal, destacou que as questões bilaterais com os Estados Unidos devem ser resolvidas por meio do diálogo diplomático. Como medida formal, a Índia notificou a Organização Mundial do Comércio (OMC) acerca da intenção de aplicar tarifas retaliatórias a determinados produtos norte-americanos, embora ainda não tivessem especificado quais itens seriam atingidos. Apesar dessas tensões, as projeções oficiais de crescimento econômico da Índia para o ano fiscal de 2025/26 permanecem entre 6,3% e 6,8%, sustentadas pela expectativa de que os efeitos das tarifas sejam limitados e pela contribuição de fatores externos, como a estabilidade nos preços do petróleo.

Trump e Modi se reúnem na Casa Branca em fevereiro • REUTERS/Kevin Lamarque

Playing by the book

Em fevereiro de 2025, o presidente Donald Trump e o primeiro-ministro Narendra Modi acordaram iniciar negociações para a elaboração de um acordo comercial. A meta desse compromisso inclui ampliar o comércio bilateral para 500 bilhões de dólares até 2030, ampliar a compra de petróleo, gás e equipamentos militares norte-americanos pela Índia e cooperar no combate à imigração ilegal. Segundo fontes oficiais, as expectativas eram de que as negociações resultassem em um acordo até o final de junho, evitando a aplicação de novas tarifas adicionais previstas para julho.  

Entretanto, no mês de agosto, o presidente dos EUA, Donald Trump, impôs uma tarifa adicional de 25% sobre os produtos indianos, citando as contínuas importações de petróleo e equipamentos militares russo por Nova Délhi, alegando que essa medida aumentou drasticamente as tensões entre os dois países. As negociações entre Nova Délhi e Washington entraram em colapso devido a discordâncias sobre a abertura dos vastos setores agrícolas e de laticínios da Índia, e a interrupção das compras de petróleo russo.  O anúncio ocorreu logo depois de o presidente americano, Donald Trump, dobrar as tarifas de 25% contra Nova Déli porque ela é “uma das maiores compradoras de petróleo russo”, e financiaria indiretamente a guerra na Ucrânia. 

A  medida, que preocupa os exportadores e tensiona as relações entre Nova Déli e Washington, têm alimentado o sentimento antiamericano no país, com apoio de aliados do primeiro-ministro Narendra Modi. A Índia, o país mais populoso do mundo, é um mercado estratégico para empresas dos EUA, que têm se expandido para atender consumidores de maior poder aquisitivo. Ademais, o grupo nacionalista Swadeshi Jagran Manch, ligado ao partido de Modi, realizou manifestações em várias cidades pedindo o boicote a produtos americanos e distribuindo listas de marcas indianas como alternativa. Uma das campanhas divulga um gráfico com o título “Boicote redes de alimentos estrangeiros”, incluindo logotipos de redes como McDonald’s.

Assim, o mercado de ações da Índia enfrenta riscos significativos devido às tarifas propostas pela administração dos EUA, que podem atingir uma taxa nominal de 50% e média de 36% após isenções, segundo a Capital Economics em uma nota recente. O aumento abrupto das tarifas, como está acontecendo, acaba por influenciar negativamente a economia dos países, pois esse tipo de ação eleva o risco regulatório e cria incertezas para os exportadores e para as cadeias de suprimento, tornando assim o mercado instável. 

Tarifaço de Donald Trump em 2025

Além das questões tarifárias, outros fatores recentes também marcam a relação entre os dois países. A Apple, por exemplo, intensificou a produção de iPhones na Índia e enviou 1,5 milhão de unidades para os Estados Unidos, em uma estratégia para reduzir os efeitos das sobretaxas comerciais. Paralelamente, as deportações de imigrantes indianos pelo governo norte-americano, em maio, provocaram forte reação política em Nova Délhi, ampliando o desgaste diplomático. Ao mesmo tempo, os dois países avançaram em áreas estratégicas, estabelecendo termos de cooperação para coprodução de equipamentos militares e exploração conjunta de reservas energéticas indianas, em especial de gás offshore e minerais críticos.

Referências:

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