Autor: Maria Fernanda Silva Moraes1

Data da publicação: 29/01/2025

Revisor: Laura Schanuel

I. Introdução

O Brasil anunciou no dia 6 de janeiro a entrada oficial da Indonésia como membro pleno dos BRICS, estabelecendo a primeira expansão do grupo sob a presidência brasileira, iniciada em janeiro de 2025. A adesão foi aprovada durante a Cúpula de Joanesburgo, em agosto de 2023, e formalizada após a formação do novo governo indonésio. A Indonésia, maior economia e país mais populoso do Sudeste Asiático, tornou-se a primeira nação da região a integrar os BRICS. Essa adesão reflete as prioridades do presidente Prabowo Subianto, que assumiu o governo em 2024. Diferentemente de seu antecessor, Joko Widodo, que demonstrava cautela em ingressar em um grupo com Rússia, China e Índia entre seus membros fundadores, Prabowo enxerga nos BRICS uma oportunidade para fortalecer o papel da Indonésia no contexto do Sul Global.

A decisão de expandir o número de membros foi tomada durante a Cúpula do BRICS realizada em Joanesburgo, África do Sul, em 2023. Segundo o governo brasileiro, “A Indonésia partilha com os demais membros do grupo o apoio à reforma das instituições de governança global e contribui positivamente para o aprofundamento da cooperação do Sul Global”.

II. Perfil Econômico e Político da Indonésia

A Indonésia é a maior economia do Sudeste Asiático e a quarta nação mais populosa do mundo. Além disso, de acordo com o mais recente relatório World Economic Outlook, divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), está entre as 10 maiores economias do mundo em 2024 – considerando o PIB medido pela Paridade de Poder de Compra (PPC) – sendo, assim, um dos países que mais cresce na Ásia e que vem reduzindo a pobreza nos últimos anos.

Gráfico 1 – PIB baseado na Paridade de Poder de Compra (em %)

Fonte: Fundo Monetário Internacional, 2024. Elaboração própria

O país possui grande importância geoestratégica no Indo-Pacífico ao conectar a Ásia ao Hemisfério Sul e controlar rotas marítimas essenciais para o comércio global. Situada entre o Oceano Índico e o Sudoeste do Pacífico, o país se posiciona como um núcleo central das principais rotas comerciais mundiais. O Estreito de Malaca, uma das vias marítimas mais movimentadas e estratégicas do planeta, atravessa seu território, destacando a relevância da Indonésia na garantia da estabilidade regional. Nesse sentido, sua entrada nos BRICS adiciona peso econômico e geopolítico ao grupo, especialmente na região do Sudeste Asiático.

III. Impactos da Entrada da Indonésia

Essa expansão dos BRICS com a adesão da Indonésia traz implicações diretas na dinâmica do grupo e no equilíbrio geopolítico global. Assim, cabe analisar os impactos dessa entrada, tanto para a Indonésia quanto para os outros membros do BRICS. Segundo Sugiono,  Ministro das Relações Exteriores da Indonésia, “Como membro do BRICS, a Indonésia quer se tornar um construtor de pontes para os interesses das economias em desenvolvimento e das nações do Indo-Pacífico. Continuaremos ativos na prevenção de novas escaladas para a rivalidade geoeconômica e geopolítica.”

A adesão ao BRICS também está ligada às ambições econômicas da Indonésia, que pretende se tornar uma potência econômica. Líder mundial na produção de níquel, essencial para baterias de veículos elétricos, o país busca consolidar uma cadeia completa de suprimentos para a indústria, com a meta de atingir um crescimento econômico anual de 8% e se tornar uma nação desenvolvida até 2045.

Gráfico 2 – Principais países produtores de níquel, 2023

Fonte: Geopolitical Futures , 2025

Com a participação da Indonésia, o BRICS agora abrange cerca de metade da população global e mais de 41% do PIB mundial. O bloco é composto pelos maiores produtores de commodities essenciais, como petróleo, gás, grãos, carne e minerais, e inclui nove das 20 nações mais populosas do planeta, representando aproximadamente 4 bilhões de pessoas. Este novo membro fortalece as perspectivas de expansão estratégica do BRICS na Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), considerada uma das maiores parcerias comerciais e de cooperação econômica do mundo.

Em 2024, o comércio da Indonésia com os países do BRICS alcançou US$ 150 bilhões, refletindo a relevância do bloco como parceiro estratégico. O fortalecimento desse comércio é essencial para que a Indonésia atinja sua meta de crescimento econômico de 8% do PIB. O país também oferece um mercado consumidor robusto para produtos brasileiros, sendo um dos principais destinos de exportações agropecuárias do Brasil, como soja, açúcar, algodão, trigo e carne bovina.

No que tange ao comércio com o Brasil, em 2023, o país representou 2,2%  das importações totais da Indonésia, sendo seu 11º maior fornecedor. Em contrapartida, as exportações brasileiras para o país asiático somaram US$ 4,1 bilhões, colocando a Indonésia como o 14º destino mais importante para os produtos brasileiros, segundo dados da Apex Brasil. Para o economista Igor Lucena, o ingresso da Indonésia “talvez seja a mais importante porta para o Brasil adentrar no sudeste asiático e diminuir sua dependência econômica, por exemplo, de exportações para a China”.

Sendo assim, a Indonésia ingressa no bloco como potência regional asiática econômica e politicamente relevante. A professora de relações internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Ana Elisa Saggioro Garcia, avalia que “a Indonésia soma de uma maneira positiva com um Brics mais reformista e com menos enfrentamento geopolítico, como talvez seria a incorporação da Venezuela, e como é a incorporação do Irã e de outros países com um peso político mais controverso”

IV. Reações Internacionais e Impacto Regional

A entrada da Indonésia nos BRICS também gerou uma série de reações tanto no cenário internacional quanto internamente. Nesse contexto, o professor de Direito Internacional da Universidade da Indonésia, Hikmahanto Juwanatendo, chamou atenção para que a Indonésia avalie cuidadosamente as possíveis implicações da decisão de entrar para os BRICS no que se refere às relações com os EUA. Isso se dá em vista da ameaça do então presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de até 100% aos países dos BRICS caso seguissem com planos de criar uma moeda alternativa ao dólar. “Exigimos um compromisso desses países de que eles não criarão uma nova moeda dos BRICS nem apoiarão qualquer outra moeda para substituir o poderoso dólar americano, ou enfrentarão tarifas de 100% e devem esperar dizer adeus à venda para a maravilhosa economia dos EUA”, pontuou em sua plataforma Truth Social. Essa declaração gerou preocupação no país, visto que os Estados Unidos são um de seus principais parceiros comerciais, com um volume de comércio superior a US$ 34,5 bilhões em 2023. O professor afirmou que “minha preocupação é que Trump considere a Indonésia hostil aos EUA. Se isso acontecer, vários privilégios e facilidades fornecidos pelos EUA até agora à Indonésia serão retirados”.

Assim, especialistas indonésios alertam que a adesão aos BRICS pode afetar as relações comerciais do país com o Ocidente, especialmente em disputas já existentes sobre óleo de palma e níquel. Eles destacam a importância de a Indonésia manter equilíbrio entre os blocos econômicos e reforçam que sua adesão ao BRICS não representa um alinhamento contra os EUA, mas sim uma extensão de sua política externa independente. Sobre a questão, o ministro das Relações Exteriores da Indonésia, Sugiono, reconheceu que alguns consideram a decisão do país como um afastamento da postura não alinhada. No entanto, ele enfatizou que esta é uma manifestação da política externa livre e ativa da Indonésia, e permanece firme em sua posição como um país não alinhado. “A Indonésia garantirá a união dos interesses dos países em desenvolvimento e da região do Indo-Pacífico, além de continuar ativa na prevenção da escalada da competição geoeconômica e geopolítica”, disse Sugiono.

Para a pesquisadora do Centro de Estudos e Pesquisas BRICS, da PUC do Rio, a Indonésia fortalece o grupo ao atuar como representante das potências regionais do Sul Global. “A Indonésia atrai parceiros que não querem ficar à sombra dos países ocidentais e que pretendem apostar em um mundo multipolar. São parceiros que, assim como Brasil, Índia, África do Sul, Etiópia e Egito, não rejeitam o Ocidente, mas buscam benefícios em ambos os lados”, destacou.

E o governo da Indonésia, em nota, agradeceu o apoio do Brasil e da Rússia para sua entrada nos BRICS, ressaltando que o bloco é uma plataforma importante para fortalecer a cooperação Sul-Sul e garantir que as vozes dos países do Sul Global sejam representadas no processo global de tomada de decisões.

V. Conclusão

A adesão da Indonésia aos BRICS representa um marco importante para o grupo, que agora se expande para o Sudeste Asiático, uma região estratégica e dinâmica do ponto de vista econômico e geopolítico. Nesse sentido, a Indonésia fortalece o BRICS como um conjunto de potências regionais do Sul Global e amplia as perspectivas de cooperação econômica, política e de comércio.

VI. Referências

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  1. Graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). E-mail de contato do autora: maria.moraes2@ufu.br ↩︎

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