Autor: Maria Eduarda Alves Viana Santos1
Data da publicação: 20/01/2025
Revisor: Julia Pirani Cabral
1- Introdução
A competição tecnológica entre China e os Estados Unidos na área de inteligência artificial (IA) é um dos confrontos mais significativos do cenário geopolítico contemporâneo. A corrida por supremacia tecnológica envolve investimentos massivos, políticas governamentais estratégicas e avanços impressionantes em pesquisa e desenvolvimento. Empresas líderes como Google DeepMind, dos Estados Unidos, e Baidu AI, da China, estão na vanguarda desta disputa, impulsionando inovações que têm o potencial de transformar indústrias inteiras e influenciar a dinâmica global de poder. Este informe detalha os principais aspectos dessa competição, explorando os investimentos em pesquisa, as políticas governamentais, as tecnologias emergentes, as colaborações internacionais, os desafios éticos e regulatórios, o impacto econômico e a influência global das duas maiores economias do mundo.
2- Investimento em Pesquisa e Desenvolvimento e Políticas de Inteligência Artificial
Tanto os Estados Unidos quanto a China têm direcionado grandes investimentos para pesquisa e desenvolvimento em inteligência artificial, cada um com abordagens diferentes, mas igualmente ambiciosas. Em 2021, o setor acadêmico nos EUA investiu aproximadamente US$ 89,87 bilhões em P&D, enquanto a China destinou um total de US$ 441,13 bilhões. Nos EUA, o ecossistema de inovação conta com uma forte colaboração entre universidades, empresas privadas e agências governamentais, como a DARPA. Empresas como Google, Microsoft e IBM lideram os avanços em IA, com iniciativas como o Google DeepMind, responsável pelo AlphaGo, além de pesquisas em diagnóstico médico e desenvolvimento de medicamentos.
A China, por sua vez, investiu 2,4% do PIB em pesquisa e desenvolvimento no mesmo ano, com uma meta de atingir 2,8% até 2025. O governo chinês lançou o plano “Next Generation Artificial Intelligence Development Plan”, visando fazer do país o líder mundial em IA até 2030, com mais de US$ 150 bilhões alocados para o setor. Empresas como Baidu, Alibaba e Tencent lideram os esforços, com a Baidu Brain sendo referência em inovações de IA. O governo promove a cooperação entre universidades, centros de pesquisa e empresas, enquanto o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação (MIIT) é responsável pela coordenação das políticas e recursos.
Em 2023, os EUA aumentaram suas regulamentações por meio de uma ordem executiva do presidente Joe Biden, que visa garantir segurança, privacidade, direitos civis e transparência no uso da IA. A China, por sua vez, foca a regulação e governança através do MIIT, promovendo o desenvolvimento seguro e ético da IA e investindo em infraestrutura como data centers e plataformas de computação em nuvem.
Gráfico 1: Investimento em Pesquisa e Desenvolvimento em Dólares (2021)

Fonte: Forbes Brasil e Xinhua News Agency (elaboração própria)
3- Tecnologias e Aplicações e Impacto Econômico
Nos Estados Unidos, empresas de ponta desenvolvem IA aplicada em áreas como saúde, veículos autônomos e cibersegurança. A Google DeepMind lidera avanços notáveis em reconhecimento de fala e visão computacional. Estima-se que a IA pode adicionar até US$ 13 trilhões à economia global até 2030, com os EUA como um dos principais beneficiários desse crescimento.
Na China, o foco das empresas está na aplicação de IA em setores como manufatura, finanças e segurança. A Baidu AI se destaca em projetos de reconhecimento facial e análise de dados, com forte suporte do governo. A CAICT (Academia Chinesa de Tecnologia da Informação e Comunicações) estima que a IA poderá contribuir com até US$ 7 trilhões para a economia chinesa até 2030, impulsionando o crescimento econômico e a competitividade do país no cenário global.
Gráfico 2: Impacto Econômico Potencial da IA até 2030.

Fonte: China Academy of Information and Communications Technology (CAICT) (elaboração própria)
4- Colaborações Internacionais e Influência Global
Ambos os países estão ampliando suas colaborações internacionais para consolidar suas posições globais em IA. Nos EUA, iniciativas como a Partnership on AI incluem empresas e instituições de vários países, com o Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (NIST) liderando na definição de padrões internacionais de IA. Os EUA têm forte influência no estabelecimento de diretrizes e regulamentações, promovendo práticas éticas e seguras para a IA.
Já a China busca aumentar sua influência global através de parcerias na Europa e na Ásia e da participação em alianças como a Global AI Alliance. A CAICT tem um papel ativo na definição de padrões internacionais, reforçando o papel da China como líder mundial e promovendo a adoção de sua tecnologia de IA em mercados emergentes.
5- Desafios Éticos e Regulatórios
Nos Estados Unidos, existem debates sobre como regular a inteligência artificial para garantir a privacidade e evitar discriminação. Iniciativas como a National AI Initiative foram implementadas para promover o desenvolvimento responsável e ético da IA. Além disso, a Federal Trade Commission (FTC) está envolvida na regulamentação de práticas de IA, assegurando que as tecnologias sejam desenvolvidas e usadas de maneira justa e segura.
Na China, o governo enfrenta desafios semelhantes e tem implementado regulamentações para controlar o uso de IA e proteger os direitos dos cidadãos. A The Cyberspace Administration of China (CAC) é o regulador nacional da internet da China, com isso, supervisiona também o uso de IA no país, garantindo que as tecnologias sejam aplicadas de forma segura e respeitem as normas estabelecidas para a proteção de dados e privacidade.
6- Conclusão
A competição entre China e Estados Unidos na área de inteligência artificial está moldando a dinâmica do poder global. Ambos os países estão investindo muito e adotando políticas estratégicas para avançar no desenvolvimento e uso da IA, com abordagens diferentes. Os EUA lideram com inovações e parcerias internacionais, enquanto a China aposta em uma estratégia integrada entre governo e setor privado, buscando a liderança mundial até 2030.
Essa disputa traz consequências econômicas, éticas e geopolíticas que afetam áreas como regulamentação, padrões globais e colaboração entre países. Com o avanço da IA, essa rivalidade provavelmente se intensificará, influenciando o futuro da tecnologia e seu impacto na sociedade. No fim, equilibrar inovação, regulação e cooperação internacional será essencial para garantir que o progresso em IA seja responsável e benéfico para todos.
7 – Referências Bibliográficas
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- Graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). E-mail de contato da autora: mariaeduardavianacom52@gmail.com. ↩︎
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