Autor: Marcela de Sena Moreira Silva1

Data da publicação: 08/01/2025

Revisor: Laura Schanuel

I. Introdução

Em 2025, o Brasil assume a presidência rotativa dos BRICS+, (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de seus novos membros; Árabia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã), considerado no cenário atual uma das cooperações econômicas mais importantes do cenário global. A presidência do Brasil, que se estende até 31 de dezembro de 2025, ocorre em meio a um momento crucial para a geopolítica mundial, marcado por desafios internos e externos, como as tensões comerciais com o novo governo dos Estados Unidos e o impacto da crescente multipolaridade no comércio e nas relações diplomáticas.

II. Principais Pautas

Durante a presidência do Brasil, algumas das principais pautas no BRICS+ incluem a expansão do grupo com novos membros, o fortalecimento de mecanismos de financiamento e comércio entre os países emergentes e a busca por maior autonomia em relação a instituições financeiras tradicionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Também será fundamental a abordagem das questões climáticas e ambientais que vem sendo pauta brasileira já a algum tempo, por meio da promoção do desenvolvimento sustentável e coordenação dentro do bloco. 

Além disso, são colocadas pelo Brasil cinco prioridades para essa gestão, das quais estão: a facilitação do comércio e investimentos entres os países dos agrupamentos por meio do desenvolvimento de pagamentos, a promoção da governança inclusiva e responsável da Inteligência artificial para o desenvolvimento, o aprimoramento das estruturas de financiamento para enfrentar as mudanças climáticas, em diálogo com a COP 30, o estímulo aos projetos de cooperação entre países do Sul Global, com foco principal em saúde pública, e o fortalecimento institucional dos Brics+. 

Como demonstra o gráfico acima, a balança comercial dos BRICS, que é um indicador econômico que registra a diferença entre as exportações e importações de um país em um determinado período, apresenta dinâmicas complexas, refletindo tanto as relações internas entre os países do bloco quanto suas interações com os Estados Unidos. A China, principal potência econômica do grupo, tem um papel crucial nas exportações, especialmente para os EUA, com uma grande demanda por produtos manufaturados e tecnológicos, por outro lado o Brasil, foca em exportações de commodities, como soja, minério de ferro e petróleo, para a China e outros países do bloco, enquanto enfrenta um déficit comercial com os EUA, que se agrava pela importação de produtos industrializados e bens de consumo. A Rússia, embora com sanções econômicas, mantém uma balança comercial positiva com a China, enquanto sua relação com os EUA é mais voltada para questões políticas e energéticas, o que impacta seu comércio. A Índia, com seu setor de serviços e tecnologia, vê um comércio crescente com os EUA, mas enfrenta desafios nas exportações de produtos manufaturados. A África do Sul, com uma economia mais voltada para recursos naturais, também registra um superávit comercial com os EUA em alguns setores. Em conjunto, os BRICS buscam diversificar suas relações comerciais, mas continuam a ser impactados pelas políticas econômicas dos EUA, especialmente no contexto de tarifas e acordos comerciais.

Gráfico 1: Balanças Comerciais- BRICs+ e EUA

Fonte: UNCTAD. Elaboração Própria.

III. Implicações no Cenário Internacional: Governo de Donald Trump 

Os BRICS+ apoiam o fortalecimento de organizações multilaterais, como o próprio grupo, a reforma do Conselho de Segurança da ONU e alternativas para apoiar os países em desenvolvimento, como o Banco do Brics, em vez do FMI. Como mencionado pela professora do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Marianna Albuquerque em entrevista pelo UOL: “O país que assume a presidência tem um maior poder de agenda para escolher temas prioritários e liderar as negociações dos compromissos e declarações (…)”, portanto, cabe ao Brasil estando na Presidência dos BRICs+ coordenar da melhor forma possível um diálogo que seja favorável para os dois lados.  

Ademais, com o Brasil na presidência, será necessário equilibrar a busca por uma maior independência econômica e os desafios impostos por possíveis novas tensões comerciais com os Estados Unidos, além de promover um discurso de diálogo e cooperação entre os membros dos BRICS+.

IV. Cúpula dos BRICs+

Em meio a esse horizonte, uma das principais atividades da presidência brasileira será a organização da Cúpula dos BRICS+, que reunirá líderes dos países membros e convidados, abordando temas como segurança alimentar, energia limpa, infraestrutura, governança global, e temas mais atuais como, inteligência artificial e mudanças climáticas. Em meio a todas essas temáticas, este evento será uma oportunidade para o Brasil reafirmar seu papel como mediador e líder do grupo, destacando sua estratégia de promover uma agenda multilateral e de ampliação da cooperação entre o Sul Global.

É importante salientar que Rússia e China são bastante observados quando a temática envolve mudanças climáticas, a China sendo o maior país poluente e a Rússia como um dos maiores produtores e exportadores de combustíveis fósseis e hidrocarbonetos.

Gráfico 2: Emissões Históricas de GEE

Fonte: Climate Watch; Location: BRICS; Sectors/Subsectors: Total including LUCF; Gases: All GHG; Calculation: per Capita; Show data by Countries.

Como demonstra o gráfico acima, os países membros do BRICS+ têm um papel considerável na emissão de gases de efeito estufa (principalmente o CO2), e que com isso fica claro a importância e o compromisso que devem se submeter para reverter a situação e se colocarem como exemplo no contexto global. Como afirmou à Agência Brasil o secretário de Ásia e Pacífico do Itamaraty, Eduardo Saboia: “O Brics tem que ser parte dessa construção [de um mundo sustentável]. É importante que haja um entendimento entre esses países”.

V. Considerações Finais

Por fim, a presidência do Brasil no BRICS+ em 2025 se apresenta como um marco para o país e para o bloco. Como foi demonstrado anteriormente, desafios como a gestão das tensões com os Estados Unidos, o fortalecimento da cooperação entre os membros e a ampliação do bloco serão centrais. O Brasil tem a oportunidade de reafirmar sua liderança na construção de um novo paradigma de relações internacionais, baseado na cooperação entre os países emergentes e na busca por uma maior equidade no cenário global.

VI. Referências

Brasil assume a presidência do BRICS em 2025. Disponível em: <https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2025/01/brasil-assume-a-presidencia-do-brics-em-2025>. Acesso em: 4 jan. 2025.

BBC NEWS. Trump ameaça “tarifaço” em defesa do dólar: Brasil pode ser alvo por estar nos Brics? – BBC News Brasil. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/articles/ce8eyrygej8o>.

CASADO, L. Brasil recebe cúpula do Brics em meio a pressão de Trump contra bloco. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/colunas/leticia-casado/2025/01/03/brasil-brics-trump.htm>. Acesso em: 4 jan. 2025.

CAVALCANTE, I. Brasil assume presidência do Brics; encontro do grupo será no país. Disponível em: <https://www.metropoles.com/mundo/brasil-assume-presidencia-dos-brics-encontro-do-grupo-sera-no-pais>. Acesso em: 4 jan. 2025.

CAVALCANTE, I. Brasil lidera os Brics sob o risco de guerra tarifária com Trump. Disponível em: <https://www.metropoles.com/mundo/brasil-lidera-os-brics-sob-o-risco-de-guerra-tarifaria-com-trump>. Acesso em: 4 jan. 2025.

COP 30 no Brasil. Disponível em: <https://www.gov.br/planalto/pt-br/agenda-internacional/missoes-internacionais/cop28/cop-30-no-brasil>. Acesso em: 4 jan. 2025.

COLLINSON, S. Análise: Trump já exerce o poder e causa importantes disrupções. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/eleicoes-nos-eua-2024/analise-trump-ja-exerce-o-poder-e-causa-importantes-disrupcoes/>. Acesso em: 4 jan. 2025.

CORREIO BRAZILIENSE. Brasil assume presidência do Brics de olho na expansão e em Trump. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2025/01/7024745-brasil-assume-presidencia-do-brics-de-olho-na-expansao-e-em-trump.html>. Acesso em: 4 jan. 2025.

CNN. Brasil assume a presidência rotativa dos Brics em 2025. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/brasil-assume-a-presidencia-rotativa-dos-brics-em-2025/>. Acesso em: 4 jan. 2025.

Dióxido de carbono (CO2) – IPAM Amazônia. Disponível em: <https://ipam.org.br/glossario/dioxido-de-carbono-co2/>.

FÁBIO CANETTI GALÃO. Por que a posse de Trump será apenas no dia 20. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/por-que-a-posse-de-trump-sera-apenas-no-dia-20/>. Acesso em: 4 jan. 2025.

FMI. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/manualdecomunicacao/guia-de-economia/fmi>. Acesso em: 4 jan. 2025.

Greenhouse Gas (GHG) Emissions. Climate Watch. Disponível em: <https://www.climatewatchdata.org/ghg-emissions?calculation=PER_CAPITA&end_year=2021&regions=BRICS&start_year=1990>. Acesso em: 5 jan. 2025.

G1. BRASIL. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/01/01/brasil-assume-presidencia-do-brics-com-foco-em-meio-ambiente-comercio-e-inteligencia-artificial.ghtml>. Acesso em: 5 jan. 2025.

Os BRICS na COP 27: uma análise sobre o posicionamento dos países e um debate sobre a sua ambição climática. IRI: Instituto de Relações Internacionais. Disponível em: <https://www.iri.puc-rio.br/blog/os-brics-na-cop-27-uma-analise-sobre-o-posicionamento-dos-paises-e-um-debate-sobre-a-sua-ambicao-climatica/>. Acesso em: 5 jan. 2025.

Sobre o NDB. Disponível em: <https://www.gov.br/planalto/pt-br/agenda-internacional/missoes-internacionais/reuniao-do-brics-2023/sobre-o-ndb>. Acesso em: 4 jan. 2025. 

UNCTAD. UNCTAD | Home. Disponível em: <https://unctad.org/>. Acesso em: 8 jen. 2025.

VEJA. Brasil assume a presidência do Brics e define cinco prioridades. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/mundo/brasil-assume-a-presidencia-do-brics-e-define-cinco-prioridades>.

WORLD BANK GROUP.  Brasil. Disponível em: <https://www.worldbank.org/pt/country/brazil>. Acesso em 05 jan. 2025.

  1. Graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). E-mail de contato do autor: marcela.sena@ufu.br ↩︎

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