Autor: Bruna Raissa Alves Silva1

Data de publicação: 22/01/2025

Revisor: Julia Pirani Cabral

1- Introdução

A competição entre Estados Unidos (EUA) e China vai além das questões comerciais e militares e se intensificou nos últimos anos, especialmente no setor tecnológico, onde as redes sociais desempenham um papel significativo. As redes sociais, que antes eram vistas apenas como ferramentas de comunicação e entretenimento, tornaram-se palco para uma disputa tecnológica intensa, envolvendo a segurança de dados, influência cultural e soberania tecnológica. Enquanto a China é lar de gigantes como Douyin (TikTok), WeChat e Weibo, os EUA lideram com plataformas como Facebook, Instagram e X (ex-Twitter). Essas redes, que juntas alcançam mais de 7 bilhões de usuários ativos no mundo, deixaram de ser apenas ferramentas de comunicação. Tornaram-se, também, símbolos de poder econômico e influência cultural.

No centro dessa disputa está a decisão da China de proibir o uso de plataformas americanas como Facebook, Instagram e X (ex-Twitter) em seu território desde 2009, por meio de seu sistema de controle digital conhecido como o “Great Firewall”. Por outro lado, os EUA ameaçam banir o TikTok, argumentando preocupações com a segurança nacional. O bloqueio mútuo de redes sociais simboliza o aumento das tensões entre as duas maiores potências econômicas do mundo. Essa tensão reflete não apenas um conflito econômico, mas também uma luta por hegemonia política e cultural em um mundo cada vez mais polarizado. A fragmentação da internet em blocos geopolíticos evidencia os impactos dessa rivalidade na conectividade global, colocando em xeque a ideia de uma rede verdadeiramente aberta. Assim, questões como liberdade digital, privacidade dos dados e o controle tecnológico se tornam ainda mais urgentes no contexto da competição sino-americana.

2- Redes Americanas na China: Bloqueios e Controle.

O Great Firewall da China, que faz referência à Grande Muralha da China, é um sistema de controle da internet implementado pelo governo chinês para fiscalizar, filtrar e bloquear conteúdos que prejudicam e desestruturam os interesses do país. Criado no final da década de 1990 como parte do Projeto Escudo Dourado, o firewall surgiu como resposta ao crescimento acelerado da internet na China. Seu objetivo era atender às preocupações do governo quanto à proteção de sua soberania política e ideológica.

Utilizando tecnologias de filtragem por palavras-chave, bloqueio de IPs e vigilância de atividades online, o Great Firewall consolida o controle estatal sobre a internet no país. Embora reconheça o potencial econômico da conectividade mundial, o governo chinês optou por limitar o acesso à internet internacional e incentivar o uso de conexões domésticas. Assim, criou uma muralha digital que delimita o acesso a informações consideradas inadequadas para a população.

O Great Firewall opera com métodos como a filtragem de URL e o bloqueio de sites e aplicativos estrangeiros. Além disso, utiliza tecnologias avançadas, como o envenenamento de DNS, é usado para evitar que os cidadãos acessem plataformas específicas, enquanto a inspeção profunda de pacotes (DPI), permite ao governo monitorar dados online em tempo real, reforçando o controle estatal sobre a internet. Essas estratégias permitem ao governo controlar rigorosamente o fluxo de informações acessado pela população. Tais práticas são implementadas por exigências legais do governo chinês que obrigam empresas tecnológicas a autocensurarem os conteúdos disponíveis nas plataformas para operar no país.

Esse controle governamental garantiu que plataformas internacionais, especialmente redes sociais americanas, como Facebook e Twitter fossem banidos, encerrando suas operações no país em 2009, após protestos étnicos em Xinjiang, que foram amplamente organizados e divulgados nessas plataformas. Desde então, nos anos seguintes, Instagram e WhatsApp enfrentaram proibições semelhantes, reforçando o controle estatal sobre as redes sociais no país. Em contrapartida, a China incentivou o crescimento de alternativas domésticas, como WeChat (equivalente ao WhatsApp e Facebook), Weibo (semelhante ao Twitter) e Douyin (versão do TikTok), criando uma “internet dentro da internet”, completamente adaptada às legislações e valores chineses.

O WeChat, por exemplo, é a rede social mais popular da China. Além de ser um aplicativo de mensagens, funciona como uma plataforma multifuncional que inclui pagamentos digitais, compras e interações sociais. Essa integração o torna uma peça fundamental da economia chinesa, influenciando o comportamento do consumidor e alcançando mais 1 bilhão de usuários ativos.Já o Weibo, uma das principais redes sociais chinesas, combina características do X com funcionalidades pensadas para a população chinesa, permitindo o compartilhamento de textos curtos, imagens e vídeos, sendo um espaço muito utilizado por influenciadores, marcas e usuários em geral, o Weibo é uma plataforma de micro blog e uma ferramenta relevante para acompanhar tendências, eventos culturais e opiniões na China. Enquanto o Douyin, versão adaptada para a população chinesa do TikTok, é uma plataforma de vídeos curtos criada pela ByteDance que domina o mercado digital chinês, apesar de compartilhar a essência criativa do TikTok, o Douyin é usado principalmente pelo público chinês.

Para ilustrar a força das redes sociais chinesas e seu papel dominante no mercado digital interno, podemos analisar os dados mais recentes sobre as plataformas mais usadas na China. De acordo com o Statista (2023), plataformas como WeChat, Douyin e Weibo dominam o mercado de redes sociais na China. WeChat, por exemplo, alcançou mais de 1,3 bilhão de usuários ativos mensais, tornando-se a plataforma social mais usada no país. Douyin e Weibo mantêm números impressionantes de 600 milhões e 580 milhões de usuários, respectivamente.

Gráfico 1 – Redes sociais mais usadas na China

Fonte: Statista (2023)

Esses dados mostram como a China conseguiu, com sucesso, criar uma infraestrutura digital autossuficiente, controlada e monitorada, uma característica vital de sua soberania digital. Enquanto o Facebook, Instagram e X são proibidos de operar na China, outras empresas globais, como o Google, enfrentam restrições semelhantes. Esse isolamento digital reforça o domínio das plataformas internas.

A política de soberania digital da China tem como objetivo proteger sua infraestrutura tecnológica reduzindo a dependência de empresas estrangeiras, onde as redes sociais desempenham um papel crucial, que vai muito além do âmbito do entretenimento e comunicação e torna-se uma ferramenta que influencia aspectos econômicos, políticos e culturais da sociedade. Redes como Douyin, WeChat e Weibo não apenas facilitam a comunicação, mas também desempenham um papel ativo na economia chinesa que juntas somam bilhões de usuários ativos, que influenciam o comportamento do consumidor, além de contribuir para a preservação e a divulgação do patrimônio cultural chinês fortalecendo as gigantes empresas domésticas como Tencent e Alibaba, que agora dominam setores cruciais da economia digital global.

3- Redes Chinesas nos EUA: O Caso Tiktok e o Debate Sobre Segurança Nacional.

Nos últimos anos, surgiram diversas alegações e investigações relacionadas à coleta de dados por empresas chinesas, com foco especial no TikTok, um dos aplicativos mais populares tanto nos EUA quanto em todo o mundo. O ex-Presidente Joe Biden sancionou no último ano de seu mandato em 2024 uma lei para proibir o TikTok em todo o país, a menos que a ByteDance encontre um comprador americano para a rede social. Autoridades americanas têm destacado preocupações com a possibilidade de que informações sensíveis de cidadãos dos EUA estejam sendo acessadas pelo governo chinês, dada a obrigatoriedade, imposta por leis chinesas, de que empresas nacionais colaborem com as autoridades em questões de segurança nacional. A iniciativa de proibir a plataforma no país vem do primeiro governo de Donald Trump, que expressava que a rede “representava um risco para a segurança do país porque a China poderia se aproveitar do poder da empresa para obter dados de usuários americanos”. Além disso, os EUA têm apontado que o TikTok coleta uma quantidade excessiva de informações dos dispositivos de seus usuários.

O TikTok tem sido alvo de diversas críticas, com argumentos baseados na preservação da segurança nacional. As alegações apontam que a ByteDance, empresa com sede em Pequim, estaria coletando dados de forma excessiva. Desde 2020, investigações apontam que o aplicativo pode coletar dados sensíveis, como localização, hábitos de navegação, listas de contatos e preferências dos usuários, o que levanta questões sobre como essas informações podem ser usadas. Em resposta, os EUA implementaram proibições em dispositivos governamentais e discutem o RESTRICT Act, (proposto em março de 2023), que busca restringir tecnologias de países considerados adversários, incluindo a China. Além disso, legisladores pressionaram a ByteDance a vender o TikTok a uma empresa americana para aumentar a transparência e minimizar riscos de espionagem, o que, segundo autoridades, garantiria maior controle sobre os dados de usuários.

Essa revelação reforçou temores de espionagem e levou o FBI e a Comissão de Investimentos Estrangeiros nos EUA (CFIUS) em 2020, a mobilizarem a pressão sobre o banimento ou possível venda do TikTok. Essas instituições apontaram riscos relacionados à possível coleta excessiva de dados sensíveis, incluindo localização e preferências pessoais, que poderiam ser acessados pelo governo chinês. Embora não haja evidências públicas de espionagem direta, casos anteriores, como as ações contra empresas chinesas Huawei, reforçam o receio de que plataformas tecnológicas possam ser usadas como ferramentas de vigilância.

Apesar da do CEO do TikTok, Shou Zi Chew negar qualquer interferência direta do governo chinês nos usuários da plataforma, assumindo que o governo chinês nunca pediu dados ao TikTok e que a empresa recusaria qualquer possível solicitação, mas com a dependência das regulamentações nacionais dificulta que a empresa se desvincule dessas suspeitas frente ao Congresso americano. Como resultado, o TikTok se tornou o principal símbolo do debate sobre segurança digital e soberania tecnológica nos EUA. Essa relação entre a ByteDance e o governo chinês alimenta preocupações sobre o potencial uso dos dados do TikTok para fins de espionagem.

Em defesa, a ByteDance apresentou o “Project Texas” em 2022, que visa armazenar dados de usuários americanos em servidores locais geridos pela Oracle (banco de dados americano), com auditorias independentes para reforçar a segurança. Apesar disso, autoridades permanecem preocupadas, apontando que o governo chinês poderia exigir acesso aos dados devido às leis de segurança nacional da China. No entanto, o Congresso segue cético, focando na possível interferência do governo chinês e nos riscos à privacidade e à soberania digital dos EUA. Tais ações refletem uma dura tentativa de conter a influência tecnológica da China no cenário no país.

A proibição do TikTok nos EUA como maneira de proteger os interesses nacionais, enquanto críticos dessas medidas argumentam que elas podem ser motivadas por questões econômicas e competitivas, mais do que por ameaças reais, já que o TikTok é uma das redes sociais mais populares nos EUA e sendo a única estrangeira, e propriedade de uma empresa que reside na China, que é o principal competidor tecnológico dos EUA. Plataformas americanas como Facebook e Instagram, coletam dados de usuários de forma similar ao TikTok, mas a grande diferença é que pertencem a empresas que residem nos EUA.

Nos EUA, a segurança de dados é regulada por uma série de leis e normas que afetam tanto empresas domésticas quanto estrangeiras. Uma dessas leis é o CLOUD Act (Clarifying Lawful Overseas Use of Data Act), que permite que o governo americano acesse informações em servidores de empresas americanas, mesmo que esses dados estejam localizados no exterior. Isso levanta um paralelo interessante, já que, enquanto os EUA exigem maior transparência do TikTok, suas próprias normas demonstram a relevância estratégica dos dados no contexto de segurança nacional. No caso do TikTok, a quantidade massiva de dados coletados, combinada com sua popularidade, intensifica as preocupações com privacidade e soberania digital.

Por mais que o atual presidente Donald Trump tenha se posicionado a favor do bloqueio da rede em seu primeiro mandato, Trump parece ter voltado atras em relação ao bloqueio da TikTok, talvez pela influência que a rede exerceu em sua campanha com o eleitorado mais jovem. O republicano que tomou posse nessa segunda-feira (20/01) espera impedir a proibição da rede social, que segundo ele, está buscando uma “solução diplomática”, onde possa dar continuidade para a operação do TikTok e garantir a segurança nacional dos EUA. Após um bloqueio de menos de 24 horas da plataforma nos EUA no dia 19/01, o Presidente eleito revogou temporariamente a lei sancionada pelo ex-Presidente Joe Biden que bloqueava a rede social no país, estendendo o prazo para negociações por mais 90 dias. Trump propôs que 50% da plataforma seja controlada pelos EUA, buscando meios de manter as operações do aplicativo e preservar a segurança nacional. Porém a ByteDance, até o momento rejeitou qualquer possibilidade de venda, o que torna incerto o futuro da plataforma nos EUA.

Essa disputa vai além do caso TikTok, reflete uma tendência de tensão tecnológica entre os EUA e a China. Outras empresas chinesas, como Huawei e ZTE, enfrentaram restrições similares devido a preocupações com a segurança nacional. Essas medidas são justificadas com base na proteção dos interesses americanos e na soberania digital no país, tendo em vista que as redes sociais mais usadas são domésticas, essa disputa mostra que redes sociais também podem ser usadas como ferramentas estratégicas em disputas geopolíticas.

4- Reflexos da polarização das redes sociais.

O banimento do TikTok nos EUA traria diversas consequências para diferentes setores do mercado da economia digital. Com cerca de 170 milhões de usuários ativos, a plataforma é um dos principais canais para publicidade digital, marketing de influenciadores e dos usuários que buscam entretenimento. Criadores, como Jack Nader e Danisha Carter utilizam o TikTok para atrair clientes por meio de vídeos virais, esses seriam diretamente afetados pela perda de alcance e engajamento. Além disso, os influenciadores digitais, que dependem da plataforma para monetizar conteúdo, poderiam enfrentar dificuldades para migrar seu público para outras redes. Isso impactaria diretamente seus rendimentos e estilo de vida.

A influência cultural das redes sociais vai além do simples compartilhamento de conteúdo entre usuários, sendo poderosas ferramentas de soft power. Redes sociais americanas, como Facebook e Instagram, são exemplos claros de como essas plataformas servem como veículos para exportar a cultura americana globalmente. Por meio dessas plataformas, os usuários têm acesso a conteúdos que refletem o estilo de vida dos EUA, incluindo moda, música, esportes e política. As motivações que levam os usuários americanos a frequentarem plataformas de redes sociais variam consideravelmente de acordo com as características de cada plataforma. Dados do Pew Research Center (2024) mostram que, além de impactar a vida dos milhões de usuários americanos que usam a plataforma como uma forma de entretenimento cerca de 95% dos usuários do TikTok dizem usar o aplicativo para o lazer, citando-o como o principal atrativo. Já no Facebook e no Instagram, o principal motivador é a conexão com amigos e familiares, mencionada pela maioria dos usuários, enquanto no X, o foco em acompanhar notícias políticas é mais relevante em comparação com outras redes.

Gráfico 2 – % Dos usuários dos EUA de cada plataforma

Fonte: Pew Research Center (2024)

Essas diferenças refletem o papel das plataformas na vida digital americana e destacam a dominância das redes sociais domésticas, como Facebook e Instagram, que se consolidaram como ferramentas multifuncionais, enquanto o TikTok, de origem chinesa, atrai principalmente pelo conteúdo de entretenimento. Assim como a China, os EUA também experimentam uma forma de soberania digital através do domínio de suas redes sociais no mercado interno. No entanto, as tensões entre plataformas domésticas e estrangeiras, especialmente em relação à segurança nacional e à coleta de dados, continuam a ser um tema central de debate.

A exclusão de plataformas populares por razões políticas cria um precedente perigoso, onde governos podem regular o acesso a informações e serviços digitais. Essa tendência contribui para a “balkanização” da internet, dividindo o ciberespaço em esferas de influência separadas, controladas por regulações regionais baseadas em interesses políticos. Para os usuários, o impacto é direto: menor diversidade de informações, menos opções de plataformas e maior exposição a censura, com a redução de redes sociais para os usuários exercerem a liberdade de expressão no âmbito digital, além de uma concentração de plataformas em uma única potência mundial. Em última análise, a rivalidade digital entre EUA e China está transformando a internet de um espaço aberto, que conecta todo o mundo, para uma rede fragmentada.

Porém, a fragmentação digital pode permitir que países estabeleçam maior controle sobre suas tecnologias digitais, protegendo a identidade nacional e minimizando a influência cultural estrangeira. Por exemplo, o “Great Firewall” da China ao governo chinês não apenas proteger dados sensíveis da população, mas também desenvolver uma indústria tecnológica nacional poderosa. Ao impulsionar plataformas domésticas, a China tem conseguido criar gigantes tecnológicos e promover plataformas domésticas reduzindo a dependência de tecnologias estrangeiras. A criação de espaços tecnológicos separados pode incentivar a diversificação tecnológica. Empresas podem adaptar seus serviços a diferentes mercados, promovendo soluções locais para problemas específicos. Um exemplo disso são as tecnologias de pagamento móvel amplamente utilizadas na China, como o WeChat Pay, que atendem às necessidades locais de forma eficiente.

Embora a disputa digital entre EUA e China tenha dominado as discussões sobre soberania digital, outros países também estão respondendo de forma estratégica à fragmentação digital e aos desafios impostos pelas redes sociais globais. A União Europeia (UE), por exemplo, tem se posicionado de maneira proativa em relação à proteção de dados e à regulamentação de grandes plataformas digitais. Com a implementação do Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) em 2018, a UE não apenas reforçou a privacidade e segurança de dados, mas também enviou uma mensagem clara sobre a soberania digital e a necessidade de que as plataformas respeitem as leis locais.

Na Índia, o governo adotou uma postura semelhante em relação à segurança digital, especialmente com relação às redes sociais chinesas. Em 2020, a Índia proibiu mais de 57 plataformas chinesas de operar no país, incluindo o TikTok, alegando preocupações com a segurança nacional e a privacidade dos dados dos usuários, assim como os EUA. A Índia, com uma população de mais de 1,3 bilhão de pessoas, representa um mercado crucial para as plataformas digitais, o que gerou uma resposta significativa das empresas de tecnologia. Esse movimento reflete a crescente preocupação global com a influência das empresas de tecnologia estrangeiras e o impacto de seus produtos na soberania nacional.

A fragmentação digital, portanto, não é um fenômeno isolado de apenas duas potências globais, mas um obstáculo enfrentado por países em todo o mundo. Cada governo busca equilibrar a necessidade de acesso a tecnologias globais com a proteção de sua soberania digital e seus interesses.

5- Conclusão

A rivalidade digital entre os EUA e a China ilustra o confronto mais amplo pelo domínio político e econômico global, mas também destaca um momento crítico para o futuro da internet como espaço de inovação, conectividade e liberdade. Embora a fragmentação digital represente desafios significativos, como a limitação do fluxo de informações e o aumento das tensões geopolíticas, há oportunidades para avanços em cooperação internacional e regulamentação mais inclusiva. Enquanto a soberania nacional é utilizada como justificativa para medidas de segurança, como o Great Firewall ou a proibição de plataformas chinesas como o TikTok, essas ações levantam questões essenciais sobre a liberdade de expressão dos usuários.

Enquanto a cooperação internacional poderia mitigar os impactos econômicos e promover um ambiente digital mais integrado, a escalada de restrições e barreiras sugere um cenário de fragmentação prolongada. A internet corre o risco de se dividir em blocos regionais, refletindo a polarização geopolítica das grandes potências. Os próximos anos serão decisivos para determinar o equilíbrio entre segurança e liberdade tecnológica.

Uma possível solução para mitigar os impactos dessa polarização seria o estabelecimento de acordos multilaterais que promovam padrões globais de segurança digital e privacidade, respeitando as soberanias nacionais, mas incentivando a interoperabilidade das redes e plataformas. Além disso, o fortalecimento de organizações internacionais, como a ONU ou a OCDE, para mediar disputas tecnológicas e criar mecanismos de governança digital global, poderia ajudar a preservar a essência aberta e conectada da internet.

Os próximos anos serão decisivos para determinar o equilíbrio entre segurança e liberdade tecnológica. O desafio, portanto, não é apenas evitar a fragmentação da internet, mas sim transformar essas tensões em uma oportunidade de construir uma infraestrutura digital que sirva aos interesses de todos os países, promovendo desenvolvimento econômico e acesso igualitário à tecnologia. Somente por meio do diálogo, da inovação e de soluções colaborativas será possível criar uma internet verdadeiramente global e inclusiva.

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  1. Graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). E-mail de contato da autora: brunaraissadd@gmail.com. Currículo Lattes: https://lattes.cnpq.br/6406237482099150. ↩︎

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