Autor: Gabriela Santos Oliveira1

Data da publicação: 11/12/2024

Revisor: Laura Schanuel

I. Introdução

A recente ameaça do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 100% aos países do BRICS que buscarem alternativas ao dólar tem gerado debates sobre a hegemonia da moeda americana e as dinâmicas econômicas globais. Esta análise examina as implicações dessa postura para o bloco econômico e o sistema financeiro internacional.

II. Contexto Histórico e Econômico

O BRICS, agora formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Egito, representa economias emergentes que, juntas, correspondem a uma parcela significativa do PIB mundial. Nos últimos anos, o bloco tem discutido a criação de uma moeda própria ou o uso de alternativas ao dólar em transações internacionais, visando reduzir a dependência da moeda americana e fortalecer a soberania econômica de seus membros.

Imagem 1 – Composição das reservas cambiais globais.

Fonte: The Wall Street Journal, Elaboração Própria

O gráfico acima mostra a composição das reservas cambiais globais entre 2017 e 2024. O dólar americano domina com cerca de 60%, seguido pelo euro com 20%. Já o iene japonês e o yuan chinês têm participações menores, em torno de 5% e 2-3%, respectivamente. Assim, a posição do dólar é estável, enquanto o yuan apresenta crescimento leve.

A dominância do dólar no comércio global e como reserva internacional é notável, com cerca de 58% das reservas mundiais denominadas na moeda americana, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Essa prevalência confere aos EUA uma vantagem significativa, permitindo-lhe influenciar a economia global por meio de políticas monetárias e sanções econômicas.

III. Ameaças de Tarifas e Reações Internacionais

Em 30 de novembro de 2024, Donald Trump declarou que aplicaria tarifas de 100% aos países do BRICS que tentassem criar uma nova moeda ou apoiar outra que substituísse o dólar. Ele enfatizou que qualquer nação que buscasse alternativas ao dólar deveria “dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia norte-americana”.

A resposta internacional foi imediata. A Rússia afirmou que as ameaças de Trump não impedem o desenvolvimento de um sistema de pagamentos do BRICS, destacando que o bloco está trabalhando em um sistema de liquidação em vez de uma nova moeda internacional. Além disso, a Malásia expressou preocupação de que tarifas dos EUA sobre nações do BRICS poderiam impactar a cadeia de suprimentos de semicondutores, evidenciando as possíveis repercussões globais das ações propostas por Trump.

IV. Implicações para o Sistema Financeiro Internacional

As ameaças de Trump podem acelerar os esforços de desdolarização, incentivando países a buscar alternativas ao dólar para reduzir sua vulnerabilidade a sanções e políticas econômicas dos EUA. No entanto, a criação de uma moeda comum do BRICS enfrenta desafios significativos, incluindo divergências políticas e econômicas entre os membros e a complexidade de estabelecer uma nova moeda internacional.

Especialistas argumentam que, embora a dominância do dólar possa ser desafiada, ela não será facilmente substituída devido à profundidade e liquidez dos mercados financeiros dos EUA e à confiança global na estabilidade econômica americana. Contudo, as ações de Trump podem fragmentar o sistema financeiro global e incentivar países a explorar alternativas, enfraquecendo potencialmente a posição do dólar a longo prazo.

Imagem 2 – Reservas mundiais de ouro do Banco Central.

Fonte: MacroMicro

O gráfico (imagem 2) mostra as reservas de ouro dos bancos centrais de Rússia, China e Índia entre 2000 e 2024. A Rússia lidera com 2.332,74 toneladas em 2024, apresentando forte crescimento desde 2010. Já a China demonstra ter 2.262,45 toneladas, com crescimento estável. E por fim, a Índia possui um aumento mais lento, com 822,09 toneladas. Percebe-se que a Rússia e a China destacam-se por aumentos significativos nas últimas décadas.

V. Considerações Finais

A postura de Donald Trump em relação ao BRICS reflete uma tentativa de manter a hegemonia do dólar no sistema financeiro internacional. Embora as ameaças de tarifas possam dissuadir alguns países de buscar alternativas, elas também podem incentivar esforços de desdolarização e cooperação entre nações emergentes. O equilíbrio entre a manutenção da dominância do dólar e a adaptação às mudanças nas dinâmicas econômicas globais será crucial para a estabilidade futura do sistema financeiro internacional.

VI. Referências

CUI, Carolyn. Queda nas reservas deixa emergentes mais vulneráveis a choques econômicos. 25 Jun. 2015 Disponível em: https://www.wsj.com/articles/SB11154342288815824014704581068504002003980. Acesso em: 6 dez 2024.

FARIA, Mariana. “Como ameaça de Trump ao BRICS pode afetar o Brasil e o mundo.” Estadão Internacional, 4 de dezembro de 2024. Disponível em: https://www.estadao.com.br. Acesso em: 6 dez, 2024

FARIAS, Gisele. NAKAMURA, João. “Trump e BRICs: entenda ameaça de tarifar em 100% países do bloco caso substituam dólar.” CNN Money, 6 Dez, 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/trump- ameaca-tarifar-em-100-paises-do-brics-caso-sigam-com-substituicao-do-dolar-entenda/. Acesso em: 6 dez, 2024

LIMA, Juliana. “Trump ameaça BRICS com tarifas ‘de 100%’ se bloco apoiar moeda alternativa ao dólar.” Diário de Pernambuco, 30 Nov, 2024. Disponível em: https://www.diariodepernambuco.com.br/ultimas/2024/12/trump-ameaca-brics- com-tarifas-de-100-se-bloco-apoiar-moeda-alterna.html. Acesso em: 6 dez, 2024.

PETROV, Andrei. “Autoridade russa diz que ameaça de Trump não impedirá trabalho em sistema de pagamento do BRICS.” Reuters, 6 Dez, 2024. Disponível em: https://www.reuters.com. Acesso em: 6 dez, 2024.

SOUZA, Rafael. “Trump ameaça BRICS com tarifas de 100% se substituírem o dólar.” G1 Mundo, 30 de novembro de 2024. Disponível em: https://g1.globo.com. Acesso em: 6 dez, 2024.

  1. Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). E-mail de contato da autora: gabriela.oliveira5@ufu.br ↩︎

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